A Temporalidade Criativa do Diálogo: Surpresa, Evento e Transformação Hermenêutica

Conteúdo do artigo principal

René Armand Dentz

Resumo

Este artigo investiga a estrutura temporal da surpresa no contexto do diálogo face a face, propondo que esse fenômeno revela uma forma específica de temporalidade criativa, distinta do tempo cronológico linear. A partir da hermenêutica do evento de Claude Romano, da filosofia do tempo de Henri Bergson e das concepções dialógicas de Martin Buber e Hans-Georg Gadamer, argumenta-se que a surpresa constitui uma irrupção de sentido que desestabiliza expectativas e inaugura novas possibilidades de compreensão entre os interlocutores. Integram-se ainda os aportes de Giorgio Agamben, com sua leitura messiânica do kairós, e de Paul Ricoeur, cuja hermenêutica da metáfora e da conversão permite compreender a surpresa como potência poética e ética. Conclui-se que o momento de surpresa representa o núcleo de uma temporalidade do encontro, na qual se articulam linguagem, escuta e transformação recíproca.

Detalhes do artigo

Seção
Varia
Biografia do Autor

René Armand Dentz, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas)

Professor Adjunto II do Departamento de Filosofia da PUC-Minas, onde leciona as disciplinas Antropologia e Ética e Razão e Modernidade. Pesquisador PUC/FIP 2025, desenvolve o projeto Fundamentos teológicos contemporâneos do perdão: diálogos a partir de Paul Ricoeur e René Girard. É também Professor Titular da FUPAC-Mariana (Direito), Professor do IDHMH Governador Valadares (Teologia) e docente da Pós-Graduação em Cuidados Espirituais e Capelania em Unidades de Saúde no Centro Universitário São Camilo/SP. Atua como psicanalista clínico desde 2012.Possui quatro Pós-Doutorados: em Teologia (Université de Fribourg Suíça, Universidade Católica Portuguesa Braga, PUC-Rio, todos em 2019) e em Educação (University of Warsaw Polônia, 2018). Doutor em Teologia pela FAJE (2017, CAPES 6), com a tese A liberdade e o perdão a partir do pensamento de Paul Ricoeur.Pesquisador e autor com produção consolidada nas interfaces entre Filosofia, Teologia e Psicanálise. Sua atuação abrange Teologia Moral Fundamental, Teologia Moral da Pessoa, Teologia Moral Sexual e da Família, com especial ênfase nas relações entre liberdade, perdão e memória. Dedica-se ainda às implicações da Inteligência Artificial e da tecnologia para a subjetividade, a saúde mental e a experiência do sagrado. Sua reflexão articula hermenêutica (Paul Ricoeur), psicanálise (Jacques Lacan), desconstrução (Jacques Derrida e Mark C. Taylor) e fenomenologia teológica (Jean-Luc Marion, Emmanuel Lévinas, Maurice Merleau-Ponty e Jean-Luc Nancy), explorando os vínculos entre ética, alteridade e espiritualidade.Autor de diversos livros, entre os mais recentes: Razões do Perdão (Ideias Letras, 2023), Reasons for Forgiveness (2023), Dores Contemporâneas (2024) e Perdão: diálogos entre a Filosofia e a Teologia (Paulinas, 2024), finalista do Prêmio Jabuti Acadêmico 2025, também publicado em espanhol pela Paulinas Colômbia (2025).

Referências

AGAMBEN, Giorgio. O tempo que resta: um comentário à Carta aos Romanos. Tradução de Selvino J. Assmann. Belo Horizonte: Autêntica, 2023.

AGASSI, Judith Buber. Martin Buber on Psychology and Psychotherapy: Essays, Letters, and Dialogue. Syracuse: Syracuse University Press, 1999.

BERGSON, Henri. O pensamento e o movente. Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

BITBOL, Michel. Neurophenomenology of surprise. In: DEPRAZ, Natalie; CELLE, Agnès (orgs.). Surprise at the Intersection of Phenomenology and Linguistics. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2019. p. 9–22.

BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Newton Aquiles Von Zuben. São Paulo: Centauro, 2013.

BUBER, Martin. O conhecimento do homem. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Centauro, 2001.

CHRÉTIEN, Jean-Louis. O apelo e a resposta. Tradução de Bruno Diniz. São Paulo: Loyola, 2020.

DEPRAZ, Natalie; CELLE, Agnès (orgs.). Surprise at the Intersection of Phenomenology and Linguistics. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2019.

DEPRAZ, Natalie; STEINBOCK, Anthony (orgs.). Surprise: An Emotion?. Dordrecht: Springer, 2018.

FRIEDMAN, Maurice. My Friendship with Martin Buber: A Reflection. Syracuse: Syracuse University Press, 2013.

GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método I: Traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica. Tradução de Flávio Paulo Meurer. Petrópolis: Vozes, 2006.

GADAMER, Hans-Georg. Estética e hermenêutica. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 1999.

HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Tradução de Fausto Castilho. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon: Protocólos – Conversas – Cartas. Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 2013.

LEVINAS, Emmanuel. Tempo e o outro. Tradução de Carlos Eduardo Jordão Machado. São Paulo: Perspectiva, 1997.

MALDINEY, Henri. Penser l’homme et la folie. Grenoble: Éditions Jérôme Millon, 1991.

MENDES-FLOHR, Paul. Martin Buber and Martin Heidegger in Dialogue. The Journal of Religion, v. 94, n.1, p. 2–25, 2014.

NANCY, Jean-Luc. Ser singular plural. Tradução de Marcelo Fabri. Petrópolis: Vozes, 2014.

PATOČKA, Jan. O mundo natural como problema filosófico. Tradução de Pedro Paulo Pimenta. São Paulo: Loyola, 2007.

RICOEUR, Paul. A simbólica do mal. Tradução de Mario Luiz van der Linden. São Paulo: Loyola, 2006.

RICOEUR, Paul. A leitura da parábola. In: RICOEUR, Paul. Ensaios de hermenêutica. Tradução de Mario Kozel Filho. Petrópolis: Vozes, 2006a. p. 181–230.

ROMANO, Claude. Evento e tempo. Tradução de Nélio Schneider. São Paulo: Loyola, 2021.