Do perspectivismo ao relacionismo: uma aproximação entre Nietzsche e Latour

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Ronaldo Pelli

Resumo

Um dos principais adversários do filósofo Friedrich Nietzsche foi a noção de verdade estabelecida por Platão, depois adaptada pelo cristianismo. Para o alemão, tal verdade funcionaria sob uma metafísica reativa e dicotômica. Na prática, agiria contra vida, que seria muito mais complexa. Como forma de dar espaço para uma nova epistemologia, Nietzsche propõe o perspectivismo, que demonstraria como só podemos interpretar a realidade de forma situada, a partir do ponto de onde a percebemos, sem nunca a totalizarmos. Sua intenção era fugir também do relativismo. Embora não mencione diretamente Nietzsche, Latour enfrentou problemas parecidos e sugeriu respostas similares. Seu relacionismo propõe que as perspectivas que participam dos coletivos precisam ser levadas em conta; quanto mais perspectivas, mais “realidade”. De certa forma, assim, Latour se torna um continuador de Nietzsche, alguém que fugiu de um realismo simplista sem cair no relativismo sem valores.

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Biografia do Autor

Ronaldo Pelli, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Atualmente faz estágio de pós-doutorado no PPGF/UFRJ com o tema "A relação de Nietzsche e Foucault com o ascetismo". É editor associado da Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência (A3) e participa do Grupo de Pesquisa Humanismo (humanismo.ufrrj.br). Doutor em filosofia contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2024), tendo cursado o doutorado com bolsa Faperj nota 10. Possui mestrado em filosofia contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2016), graduação em Relações Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2003), em Jornalismo - Faculdades Integradas Hélio Alonso (2006), licenciatura em Filosofia e pós-graduação lato sensu em Arte e Filosofia pela PUC-Rio (2010), além de ter feito cursos livres sobre literatura, arte, estética e filosofia nas Universidades de Oxford e de Londres (2012). Tem experiência trabalhando como jornalista, como roteirista para audiovisual e como escritor de literatura ficcional. Pesquisa os temas: ressentimento, niilismo, fascismo e ascetismo, com a ajuda dos seguintes autores: Nietzsche, Foucault, Deleuze.

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