Está aberta a submissão de artigos para o número 57 da revista O que nos faz pensar, do departamento de Filosofia da PUC-Rio, em número especial sob o título de "Para além do dualismo: configurações do corpo na Modernidade".

O dossiê será organizado por Clara Castro (PUC-Rio) e Pedro Galé (UFSCar).

 

Detalhamento da proposta: 

No século I a.C., Lucrécio explica a seu interlocutor Mêmio que “existem os corpos não vistos do vento, / já que em feitio e maneira parecem emular até mesmo / grandes rios, estes que têm manifestos os corpos” (Sobre a natureza das coisas, trad. Rodrigo Tadeu Gonçalves, Belo Horizonte: Autêntica, 2021, l. I, v. 295-297). Mediante um longo poema filosófico e epistolar, o epicurista latino pretende, deleitosamente, ensinar os princípios fundamentais de seu mestre: nada vem do nada, nada volta ao nada, tudo é corpo ou vazio. Os corpos podem ser primevos, eternos e invisíveis como o vento, mas também podem, ao se combinarem, manifestarem-se e destruírem-se, tal qual os grandes rios que secam. Os manuscritos de Sobre a natureza das coisas, por muito tempo perdidos, são redescobertos no século XV e tornam-se uma referência crucial no Renascimento e na Modernidade. Ainda que seja comum a impressão de que o período moderno tenha sido fundado por Descartes fora das incertezas dos corpos imperceptíveis ou mesmo sensíveis, das ciências empíricas ou da tradição, há muitas filosofias modernas interessadas nas reflexões da Antiguidade e na reelaboração destas pelo Renascimento. O atomismo é um caso exemplar desse interesse, pois não foram poucos aqueles que, ao se besuntarem no mel dos versos de Lucrécio, acabaram por disseminar, de alguma forma, esse néctar em suas próprias obras.

 

Na segunda metade do século XVIII ‒ época marcada por um quadro conceitual preciso, a crítica do dualismo cartesiano ‒, o fascínio pela arte de Lucrécio parece se exacerbar. É quando a filosofia se aproxima das ciências naturais (fisiologia, anatomia, química, botânica etc.) e repensa, a partir delas, a própria ideia de experiência. O sentido negativo reservado pelos racionalistas à sensação é revertido em uma positividade, elemento primordial a partir do qual todo conhecimento se estrutura. Outrora substância extensa, submetida à alma pensante, o corpo se torna um efeito, um produto de processos que o configuram, desfazem-no e o recompõem no fio da experiência. A filosofia e o prazer, seja estético, seja erótico, unem-se para mostrar que também se faz metafísica do corpo, no corpo e para o corpo.

Este dossiê pretende discutir as maneiras de configuração da ideia de corpo na Modernidade. Interessa refletir sobre os seguintes eixos temáticos:

  1. átomos, corpúsculos, mixtos;
  2. natureza, animal, animalização;
  3. máquina orgânica, máquina mecânica;
  4. organismo, organização, mecanicismo;
  5. sensibilidade, sensação, sentimento;
  6. imaginação, erotismo, literatura, artes;
  7. filosofia experimental, ciências empíricas;
  8. sistema/metafísica a posteriori.

 

A revista O que nos faz pensar está avaliada com o Qualis A3 na nova classificação da CAPES.

prazo final para submissões é o dia 03/08.

publicação do número 57 está prevista para dezembro/25